quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Haver - Vinícius

http://www.youtube.com/watch?v=u6LcZfStlfc

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

15/04/1962



Vinicius de Moraes - Poética

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Se um árvore cai no meio da floresta e não há ninguém perto, ela faz barulho?

Se um árvore cai no meio da floresta e não há ninguém perto, ela faz barulho?

idealismo vs. realismo

http://en.wikipedia.org/wiki/If_a_tree_falls_in_a_forest


domingo, 18 de outubro de 2009

AVISOS PAROQUIAIS

Para quem não sabe, 'AVISOS PAROQUIAIS' são aqueles fixados nas portas de Igrejas Católicas, escritos com muito boa vontade e, 'eventualmente', com má redação.
Algumas pérolas:
AVISO AOS PAROQUIANOS:
1) 'Para todos os que tenham filhos e não sabem, temos na paróquia uma Área Especial para Crianças.'
2) 'Quinta-feira que vem, às cinco da tarde, haverá uma reunião do grupo de mães. Todas as senhoras que desejem formar parte das mães, devem dirigir-se ao escritório do pároco.'
3) 'Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia.'
4) 'Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa.Tragam os seus maridos!' (Esta é o máximo)
5) 'Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas.
Assunto da catequese de amanhã: Em busca de Jesus.'
6) 'O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia.'
7) 'O mês de novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia.'
8) 'O torneio de basquete das paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira. Venham nos aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!'
9) 'O preço do Curso sobre Oração e Jejum não inclui a comida.'
10) 'Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados.'

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quando Você Crescer - Raul

O que que você quer ser quando você crescer?
Aguma coisa importante
Um cara muito brilhante
Quando você crescer
Não adianta, perguntas não valem nada
É sempre a mesma jogada
Um emprego e uma namorada
Quando você crescer
E cada vez é mais difícil de vencer
Pra quem nasceu pra perder
Pra quem não é importante...
É bem melhor
Sonhar, do que conseguir
Ficar em vez de partir
Melhor uma esposa ao invés de uma amante
Uma casinha, um carro à prestação
Saber de cor a lição, Que no...
Que no bar não se cospe no chão, nego
Quando você crescer
Alguns amigos da mesma repartição
Durante o fim-de-semana
Se vai mais tarde pra cama
Quando você crescer
E no subúrbio, com flores na sua janela
Você sorri para ela
E dando um beijo lhe diz:
Felicidade
é uma casa pequenina
e amar uma menina
E não ligar pro que se diz.
Belo casal que paga as contas direito
bem comportado no leito
Mesmo que doa no peito
Sim...
Quando você crescer
E o futebol te faz pensar que no jogo
Você é muito importante
Pois o gol é o seu grande instante
Quando você crescer
Um cafézinho mostrando o filho pra vó
Sentindo o apoio dos pais
Achando que não está, só
Quando você crescer
Quando você crescer
Quando você crescer

Súplica cearense

Súplica cearense

Oh Deus! Perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Meu Deus, será que o Senhor se zangou?
E só por isso o sol "arretirou"
Fazendo cair toda chuva que há

Meu Deus, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, pra chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoa
E eu acho que a culpa foi
Deste pobre que nem sabe fazer uma oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe um pedido cheio de mágoa
Pro sol me clemente se "arretirar"

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir pra acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

Que sempre queimou o meu Ceará
Que sempre queimou o meu Ceará



Casuarina tocando Súplica cearense:

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sociedade Alternativa - Raul Seixas

"Viva a Sociedade Alternativa, a lei do forte, essa é a nossa lei, alegria do mundo, faz o que tu queres faz o que é tudo da lei.

Todo homem e toda mulher é uma estrela, não existe Deus se não o próprio homem, o homem tem o direito de viver pela sua própria lei.

De viver da maneira que ele quiser, de trabalhar como ele quiser, de gritar como ele quiser, de descansar como ele quiser, de morrer como ele quiser.

O homem tem o direito de comer o que ele quiser, de beber, de fumar o que ele quiser, o homem tem o direito de morrer da maneira que ele quiser, o homem tem o direito de pensar no que ele quiser, de falar no que ele quiser, de escrever o que ele quiser, desenhar, pintar, esculpir, gravar, contar, construir, destruir.

O homem tem o direito de amar, como e com quem ele quiser, o amor é a lei, o amor sobre a vontade viva!"


"Krig-Ha, Bandolo foi o primeiro disco solo de Raul Seixas em 1973, nos seus shows foram distribuídos o Manifesto/Gibi Krig-Ha, nascendo assim as bases para a SALT, Sociedade Alernativa, pregada por Raul Seixas e Paulo Coelho, inspirada no Livro das Leis de Aleister Crowley.Entre as heranças nos deixadas por Raul, além das suas maravilhosas e irreverentes músicas, podemos destacar o Jargão "Toca Raul!", que ecoa desde a década de 80 em vários shows de diversos artistas."

Fonte: http://alexhuche.blogspot.com/2009/08/20-anos-sem-raul-seixas-salt-continua.html

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Saúde mental - Rubem Alves

"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.

Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.

O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.

Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram..."

"Sobre o tempo e a eternidade" Campinas: Ed. Papirus, 1996.

domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa - Gracias a la Vida


Gracias a la vida

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el oído, que en todo su ancho
Traba noche y dia grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida,que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto

Gracias a la vida



Neger,
gosto muito da batida (simples, mas característica) do violão, ao estilo da música regional que vi na Argentina que também lembra a música regional dos gaúchos no Brasil.
Abraço!


Gracias a la Vida ( Tradução em português)

Obrigado à vida que me tem dado tanto
deu-me dois olhos que, quando os abro
perfeitamente distingo o preto do branco
e no alto céu, o seu fundo estrelado
e nas multidões, o homem que eu amo.
.
Obrigado à vida que me tem dado tanto
deu-me o ouvido que, em toda a amplitude,
grava, noite e dia, grilos e canários
martelos, turbinas, latidos, chuviscos
e a voz tão terna do meu bem amado.
.
Obrigado à vida que me tem dado tanto
deu-me o som e o abecedário
e, com ele, as palavras com que penso e falo
mãe, amigo, irmão e luz iluminando
a rota da alma de quem estou amando.
.
Obrigado à vida que me tem dado tanto
deu-me a marcha dos meus pés cansados
com eles andei por cidades e charcos,
praias e desertos, montanhas e planícies
pela tua casa, tua rua e teu pátio.
.
Obrigado à vida que me tem dado tanto
deu-me o coração que todo se agita
quando vejo o fruto do cérebro humano,
quando vejo o bem tão longe do mal,
quando vejo no fundo do teus olhos claros.
.
Obrigado à vida que me tem dado tanto
deu-me o riso e deu-me o pranto
assim eu distingo a felicidade da tristeza,
os dois materiais de que é feito o meu canto
e o canto de todos, que é o meu próprio canto
.
Obrigado à Vida
Obrigado à Vida
Obrigado à Vida
Obrigado à Vida
.
de Violeta Parra







Nota de Juca Ferreira, Ministro da Cultura:


"Gracias, Mercedes"

Aquela que cantou a vida permanece nos quatro cantos da nossa América. Uma voz potente que, ao demolir fronteiras, nos ensinou algo muito além dos territórios e bandeiras. Com Mercedes Sosa aprendemos o quanto temos a compartilhar como povos e nações. Ela nos deu o sentido de lugar, de pertencimento a uma latinidade que nos consagra em beleza e tragédias comuns.

Voz e atitude comprometida da mulher fraterna pela arte ibero-americana. Voz imortal que continuará em nossas vozes, por ter dado tantas graças à vida e que esta fosse uma vida de tempos melhores, por isso - e portanto - para nós permanece o seu canto… gracias, Mercedes, "que nos ha dado tanto"!


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Luís Fernando Veríssimo

Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender

1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

 

Economia e arte - Veríssimo

01 de outubro de 2009 | N° 16111

 
L. F. VERISSIMO
  • Economia e arte

    Sessenta e três anos depois da sua morte, John Maynard Keynes volta a ser atual, ou pelo menos volta a ser assunto. O padroeiro do Estado intervencionista e filósofo do capitalismo responsável está presente em todas as discussões sobre a crise e suas soluções, e nunca um fantasma foi tão eloquente. Discute-se não se ele estava certo, mas em que dosagem suas receitas são aplicáveis, hoje. E como ele voltou dos mortos especula-se, de novo, sobre a sua vida. Até que ponto o fato de ser um intelectual de fino trato, um amante da arte, frequentador dos salões de Bloomsbury em Londres (Virginia Woolf, Lytton Strachey, aquela turma), influenciou suas ideias sobre economia? Talvez o que se manifestava como uma preocupação com a moral do capitalismo fosse uma preocupação estética. Ou talvez as duas coisas se completassem. Ao amoralismo do mercado, Keynes antepunha as virtudes clássicas da arte: equilíbrio, sentido, humanidade. E bom gosto.

    ***

    O romancista e ensaísta inglês John Lanchester tem escrito sobre economia e arte, mas comparando as rupturas na economia mundial que deram na crise atual com rupturas na história da arte. Assim, ele diz que a revogação (no governo Clinton) da lei promulgada depois da Grande Depressão que proibia bancos de serem financeiras teve o mesmo efeito na economia que o pós-moderno teve na literatura. Sem as regras antigas, tudo era permitido, e atividade bancária tradicional se misturava com o aventureirismo da especulação financeira como, na literatura pós-moderna, os estilos se misturam e a fronteira entre comédia e tragédia se dilui. Para Lanchester, a criação dos derivativos, ou da possibilidade de dinheiro produzir dinheiro numa escala nunca antes imaginada, e sem qualquer relação com indústria, comércio ou qualquer outro tipo de negócio concreto, equivale ao advento do abstracionismo na arte. Os derivativos são desassociados da realidade física do mesmo modo que um quadro abstrato é forma representando nada, ou só representando a si mesma.

    ***

    Não sei que revolução artística Lanchester evocaria para comparar com casos estranhos como o da China, onde o comunismo promove o maior sucesso capitalista do momento, ou do Brasil, onde quem mais gosta do governo de origem popular são os banqueiros. Provavelmente o surrealismo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fernando Pessoa - Todas as cartas de amor...

    Todas as cartas de amor...

    Fernando Pessoa
    (Poesias de Álvaro de Campos)

    Todas as cartas de amor são
    Ridículas.
    Não seriam cartas de amor se não fossem
    Ridículas.

    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
    Como as outras,
    Ridículas.

    As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículas.

    Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas.

    A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)


    Álvaro de Campos, 21/10/1935


    http://www.youtube.com/watch?v=Km1_yEmWDUE


Antonio Cícero - EU VI O REI

EU VI O REI

(Marina Lima/ Antonio Cícero)


Eu vi o rei chegar...


Um rei assim

Que não escuta bem

Que adora a luz

Mas não vê ninguém

Prefere olhar

O horizonte, o céu

Longe daqui é tudo seu


Eu vi o rei chegar...


Seu sangue azul

Ninguém diz de onde vem

De que sertão

De que mar, que além

E para nós

Ele jamais se abriu

Só uma vez

Quando partiu


Eu vi o rei chegar...


Um rei assim

Cultiva a solidão

Sombria flor

No coração

E claro é

Que o pêndulo do amor

Às vezes vai

Até a dor


Eu vi o rei chegar...


Devo dizer

Que eu não sofri demais

Mas devo dizer

Que eu acordei

Mesmo sem ser

Tudo que eu imaginei

Devo dizer

Que eu o amei


Eu vi o rei chegar...