sexta-feira, 9 de maio de 2014

A DÚVIDA - fofoca

SIGILO - REI MIDAS

"O primeiro acordo de confidencialidade de que se tem notícia - lenda ou verdade - foi o supostamente firmado pelo barbeiro do Rei Midas, aquele que, ao tocar as coisas, transformava-as em ouro.

Nesse acordo, o amigo e confidente do rei comprometia-se a não revelar que este tinha orelhas de asno, sempre cobertas por uma tiara.

Essas orelhas haviam sido implantadas na cabeça do rei em virtude da vingança do Deus Apolo, que não se conformava com o fato de ter perdido um concurso musical, no qual tocara sua lira. Midas, árbitro no concurso, dera a vitória à flauta de Pan.

O peso do segredo a guardar, no entanto, era demais para o pobre barbeiro. Indo ao jardim, cavou um buraco e, agachando-se, sussurrou lá dentro a informação que não devia revelar, tapando-o logo a seguir.

Conta a lenda que do buraco brotou uma linda roseira, que murmurava, sempre que lhe batia o vento: "o Rei Midas tem orelhas de asno". A notícia, então, espalhou-se pelo reino e Midas, não suportando o ridículo, suicidou-se, bebendo sangue de touro.

A lenda serve para mostrar, a um só tempo, a dificuldade que as pessoas têm de não divulgar informações que recebem - o que parece ser uma característica da natureza humana - e também que informações transmitidas podem ser usadas por terceiros. Na época do Rei Midas, a informação serviu para que os súditos o ridicularizassem; na época atual, a recompensa mais provável seria a de obter pagamento em troca. A lenda ilustra, igualmente, a tentativa vã do rei de impedir a disseminação de informações, problema que persiste até hoje, apesar da vasta experiência acumulada há séculos no campo dos contratos."


Fonte: NETO, José Cretella. QUÃO SIGILOSA É A ARBITRAGEM? In: Revista de Arbitragem e Mediação | vol. 25 | p. 43 | Abr / 2010 | DTR\2010\473