segunda-feira, 28 de julho de 2008

Voltaire

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Maiakovski >> Eduardo Alves da Costa

No caminho com Maiakovski não é de Maiakovski, mas sim de Eduardo Alves da Costa
http://br.geocities.com/edterranova/maia40.htm

No Caminho, com Maiakóvski
Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão

é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Foucault - Velazquez - Las meninas


"[...] a representação pode se dar como pura representação."


Michel Foucault, As palavras e as coisas, Martins Fontes, 2002, pp. 20-21.


http://dimensaoestetica.blogspot.com

domingo, 20 de julho de 2008

Mandela

"For to be free is not merely to cast off one's chains, but to live in a way that respects and enhances the freedom of others."

Nelson Mandela

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Epicuro

"Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz.”

terça-feira, 15 de julho de 2008

Hegel




Explicação do triângulo (tese, antítese, síntese):
http://hegel.net/en/v0methode-dreieck.htm

Georg Wilhelm Friedrich Hegel

"Ademais, as obras de Hegel possuem a fama de serem difíceis, devido à amplitude dos temas que pretendem abarcar. Diz a anedota (possivelmente verdadeira) que quando saiu a tradução francesa da Fenomenologia do Espírito, muitos estudiosos alemães foram tentar estudar a Fenomenologia pela tradução francesa, para "ver se entendiam melhor" o árido texto hegeliano."
"Por exemplo, a Revolução Francesa constitui, para Hegel, a introdução da verdadeira liberdade nas sociedades ocidentais pela primeira vez na história escrita. No entanto, precisamente por sua novidade absoluta, é também absolutamente radical: por um lado, o aumento abrupto da violência que fez falta para realizar a revolução, não pode deixar de ser o que é, e, por outro lado, já consumiu seu ponente. A revolução, por conseguinte, já não pode voltar-se para nada além de seu resultado: a liberdade conquistada com tantas penúrias é consumida por um brutal Reinado do Terror. A história, não obstante, progride aprendendo com seus erros: somente depois desta experiência, e precisamente por causa dela, pode-se postular a existência de um Estado constitucional de cidadãos livres, que consagra tanto o poder organizador benévolo (supostamente) do governo racional e os ideais revolucionários da liberdade e da igualdade."


Is the Phenomenology needed or recomended as introduction to Hegels System:

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Machado

"A divergência dos relógios é o princípio fundamental da relojoaria."
Machado de Assis

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Quem tem pressa vai devagar

Eu sou da laia, da laia, do lama
Da laia, da lama, do lado de cá
Mas tô muito afins dessa dama
Eu quero nirvana é agora e é já

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Conselheiro Acácio

Conselheiro Acácio
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Conselheiro Acácio é uma das personagens da obra O Primo Basílio, de Eça de Queiroz. Esta figura fictícia tornou-se célebre como representação da convencionalidade e mediocridades dos políticos e burocratas portugueses dos finais do século XIX, sendo até à actualidade utilizada para designar a pompa balofa e a postura de pseudo-intelectualidade utilizada por muitas das figuras públicas portuguesas. Deu origem ao termo acaciano, designação utilizada para tais figuras ou para os seus ditos.

O Conselheiro Acácio é descrito por Eça de Queiroz como sendo um homem alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo, ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgada no alto. Tingia os cabelos, que de uma orelha à outra lhe faziam colar para trás da nuca; e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, maior brilho à calva; mas não tingia o bigode: tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo e as orelhas muito grandes, muito despegadas do crânio[1].

Perante a sociedade, o Conselheiro Acácio era um moralista, com constantes declarações a favor da sã moral e dos bons costumes, que faziam dele um público paladino da família e das virtudes cristãs.

Nado e criado em Lisboa, era um solteirão sem família, aposentado do cargo de director-geral do Ministério do Reino, que vivia num terceiro andar da Rua do Ferregial, amancebado com a criada, que entretanto o atraiçoava.

Expressava-se com chavões e elaboradas frases vazias e citava muito. Com gestos sempre medidos e cerimoniosos, jamais usava palavras triviais: não dizia vomitar, antes fazia um gesto indicativo e empregava o termo restituir. Assinante do Teatro de São Carlos há dezoito anos, conhecia toda a sociedade amante da ópera e toda a intelectualidade da moda. Nas suas constantes citações dizia sempre o nosso Garret, o nosso Herculano e falava incessantemente das nossas virtudes pátrias. Tendo sido nomeado conselheiro por carta régia, sempre que dizia El-Rei erguia-se um pouco na cadeira.

Tinha sido feito cavaleiro da Ordem de Santiago, em atenção aos seus grandes merecimentos literários e às obras publicadas, de reconhecida utilidade, no campo da economia política. Era autor das seguintes obras: Elementos Genéricos da Ciência da Riqueza e Sua Distribuição, com o subtítulo Segundo os Melhores Autores; da Relação de Todos os Ministros do Estado desde o Grande Marquês de Pombal até Nossos Dias com Datas Cuidadosamente Averiguadas de Seus Nascimentos e Óbitos e de uma volumosa Descrição Pitoresca das Principais Cidades de Portugal e Seus Mais Famosos Estabelecimentos.

Kierkegaard

"Aquilo de que o tempo necessita, no sentido mais profundo, se exprime pura e simplesmente em uma só palavra: a eternidade. A desgraça de nosso tempo é justamente se ter tornado exclusivamente 'o tempo', a temporalidade que, na sua impaciência, não quer absolutamente ouvir falar da eternidade ... Tornar o eterno absolutamente supérfluo não conseguiria, por toda a eternidade, ter sucesso. Pois, quanto mais se imagina capaz de prescindir do eterno ou quanto mais se endurece nesta arte, tanto mais também, no fundo, a única necessidade é a do eterno" (O indivíduo, OC XVI, p. 80)

sábado, 5 de julho de 2008

Florença perdoa crime de Dante Alighieri

http://www.youtube.com/watch?v=Ryx8X4JaW9Y&

Setecentos anos após ter sido condenado ao exílio, o escritor pré-renascentista italiano Dante Alighieri foi absolvido pelo conselho municipal da cidade de Florença.

O autor da Divina Comédia, condenado em 1302 por ter apoiado a facção política "errada", será reabilitado pelo prefeito da cidade em uma cerimônia pública. Um de seus descendentes receberá a honraria mais alta que a cidade pode conceder.

Na época de sua condenação, a sentença exigia dois anos de exílio e o pagamento de uma multa. Como não pagou, o poeta estaria condenado à morte e seria queimado caso retornasse a Florença. Foi durante o exílio que Dante escreveu a obra pela qual é mais conhecido, A Divina Comédia -- uma jornada dividida em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso.

http://opiniaoenoticia.com.br/interna.php?id=17030

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Espelho - Machado de Assis

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000240.pdf
Esboço de uma nova teoria da alma humana.

http://www.machadodeassis.org.br/

- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior aquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia a morrer. "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...

[...]


- O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado. Custa-lhes acreditar, não?

[...]

- Vai entender. Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo. A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada; e, se bem me lembro, um filósofo antigo demonstrou o movimento andando.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Gadamer

Gadamer's philosophical project, as explained in Truth and Method, was to elaborate on the concept of "philosophical hermeneutics", which Heidegger initiated but never dealt with at length. Gadamer's goal was to uncover the nature of human understanding. In the book Gadamer argued that "truth" and "method" were at odds with one another. He was critical of two approaches to the human sciences (Geisteswissenschaften). On the one hand, he was critical of modern approaches to humanities that modeled themselves on the natural sciences (and thus on rigorous scientific methods). On the other hand, he took issue with the traditional German approach to the humanities, represented for instance by Friedrich Schleiermacher and Wilhelm Dilthey, which believed that correctly interpreting a text meant recovering the original intention of the author who wrote it.

In contrast to both of these positions, Gadamer argued that people have a 'historically affected consciousness' (wirkungsgeschichtliches Bewußtsein) and that they are embedded in the particular history and culture that shaped them. Thus interpreting a text involves a Fusion of horizons where the scholar finds the ways that the text's history articulates with their own background. Truth and Method is not meant to be a programmatic statement about a new 'hermeneutic' method of interpreting texts. Gadamer intended Truth and Method to be a description of what we always do when we interpret things (even if we do not know it): ‘My real concern was and is philosophic: not what we do or what we ought to do, but what happens to us over and above our wanting and doing’ (Truth and Method (2nd edn Sheed and Ward, London 1989) xxviii).

Truth and Method was published twice in English, and the revised edition is now considered authoritative. The German-language edition of Gadamer's Collected Works includes a volume in which Gadamer elaborates his argument and discusses the critical response to the book. Finally, Gadamer's essay on Celan (entitled "Who Am I and Who Are You?") is considered by many -- including Heidegger and Gadamer himself -- as a "second volume" or continuation of the argument in Truth and Method.

Gadamer also added philosophical substance to the notion of human health. In 'The Enigma of
Health' Gadamer explored what it means to heal, as a patient and a provider. In this work the practice and art of medicine are thoroughly examined, as is the inevitability of any cure.
In addition to his work in hermeneutics, Gadamer is also well known for a long list of publications on Greek philosophy. Indeed, while Truth and Method became central to his later career, much of Gadamer's early life centered around studying the classics. His work on Plato, for instance, is considered by some to be as important as his work on hermeneutics.

http://en.wikipedia.org/wiki/Gadamer

Camus e Sartre: O polêmico fim de uma amizade no pós-guerra

http://www.tvcultura.com.br/entrelinhas/colaboradores.asp

Camus e Sartre: O polêmico fim de uma amizade no pós-guerra
por Manuel da Costa Pinto
Escritor e colunista de literatura

Biografia de uma amizade, com o desfecho dramático de uma ruptura pública. Assim pode ser definido o livro do norte-americano Ronald Aronson sobre as relações entre o escritor Albert Camus e o filósofo Jean-Paul Sartre.

O leitor poderá se perguntar: a quem interessa saber dos bastidores de uma briga entre dois intelectuais franceses nos anos 50? Mas o fato é que o livro de Aronson – Camus e Sartre: O polêmico fim de uma amizade no pós-guerra – é muito mais do que uma história sobre intrigas e rivalidades pessoais.

Sartre foi o papa da filosofia existencialista, uma corrente de pensamento na qual a afirmação de que “o homem está condenado à liberdade” se associava a engajamentos políticos. Para Sartre, as circunstâncias históricas eram uma possibilidade de materializar uma idéia de libertação do homem em relação a quaisquer determinações externas (religião, ideologia ou imposições sociais e econômicas).

Durante muito tempo, Camus foi identificado como existencialista. Havia muitas semelhanças entre ambos. No romance O Estrangeiro, Camus cria uma personagem totalmente indiferente às convenções sociais e que assassina um árabe numa praia da Argélia (seu país natal, no norte da África). Ao longo do julgamento, o protagonista diz que matou “por causa do sol” – expressando, uma idéia de acaso, de gratuidade, que parecia próxima à noção sartriana de contingência. E no ensaio O mito de Sísifo, Camus criou uma noção de absurdo da condição humana, de confrontação com a morte, muito próxima à filosofia de Sartre.

Sartre foi amigo e admirador de Camus até o momento em que este lançou O homem revoltado, livro de 1951 no qual atacava as ideologias que transformavam os engajamentos políticos num fim em si mesmo.

Sartre publicou em sua revista, Les Temps Modernes, um artigo que criticou O homem revoltado de modo impiedoso – gerando uma resposta de Camus e uma réplica de Sartre que selou a ruptura entre ambos.

O pano de fundo da polêmica era o fato de que Sartre estava alinhado aos comunistas no momento em que os crimes de Stalin na União Soviética estavam sendo divulgados. Camus se opunha radicalmente à idéia de que os fins justificavam os meios, de que a eficácia política poderia cancelar valores éticos – e por isso foi ridicularizado por Sartre como porta-voz de uma moral de Cruz Vermelha.

O livro de Aronson examina todas as nuances desse período conturbado da guerra fria e traz uma revelação: a existência de uma peça teatral intitulada O improviso dos filósofos, em que Camus satiriza o existencialismo de Sartre e que permaneceu inédita até recentemente. Detalhe importante: Camus escreveu O improviso dos filósofos muito antes da polêmica com Sartre – sinal de que já adivinhava disputas ideológicas que permanecem válidas até hoje.