terça-feira, 2 de setembro de 2008

Metade

“Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
e que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
E essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
e que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que a convivência comigo mesmo se torne tudo
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e o que o silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade para fazê-la florescer
pois metade de mim é platéia
a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade.......também"

Owaldo Montenegro

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