Aos 26 anos, entrou num centro cirúrgico pela primeira vez.
Desde então, viveu entre ele e o palco.
De que cor é o topo do mundo? Da cor da neve.
Para ser rei dos reis, o mais alto entre os altos, ele mudou de pele, de nariz, de labios, de sobrancelhas e de cabelo.
Pintou de branco sua pele negra, afinou seu nariz largo, seus lábios grossos, suas sobrancelhas abundantes e implantou cabelo liso na cabeça.
Graças à indústria química e às artes da cirurgia, de injeção em injeção, de operação a operação, depois de vinte anos sua imagem ficou limpa da maldição africana.
Já não tinha nem uma mancha. A ciência havia derrotado a natureza.
E, então, sua pele tinha cor dos mortos, seu nariz tantas vezes mutilado havia sido reduzido a uma cicatriz com dois buracos, sua boca era um talho pintado de vermelho e suas sobrancelhas um desenho de rosto, e cobria a cabeça com perucas.
Nada ficou dele. Só o nome. Continuava se chamando Michael Jackson.
Eduardo Galeano, Bocas del Tiempo, 2004.
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